sábado, maio 10

Entre a perfeição e o burnout: a verdadeira experiência materna

A maternidade sempre foi retratada como uma experiência sublime—um momento de felicidade intensa, realização e amor incondicional. No entanto, para muitas mães, a realidade é bem diferente. Com a pressão social, as expectativas irreais e os desafios diários, ser mãe pode se tornar uma jornada emocionalmente exaustiva. Em 2025, essa realidade ganha ainda mais relevância diante dos números alarmantes sobre a saúde mental materna.

Desde o início da gestação, muitas mulheres já enfrentam um turbilhão de emoções. Ansiedade, medo, expectativas. E não é para menos: cerca de 25,5% das gestantes apresentam transtornos de ansiedade materna, um número que cai levemente ao longo da gravidez, mas ainda atinge 20% das mães. Elas se perguntam se estão fazendo tudo certo, se serão capazes de cuidar de seus bebês da melhor maneira possível. Mas a maior pressão talvez venha depois do parto.

No primeiro mês com o bebê nos braços, o que deveria ser um período de adaptação e vínculo muitas vezes se transforma em um ciclo de exaustão e culpa. As noites mal dormidas, as dúvidas constantes, o peso da responsabilidade. No Brasil, mais de 25% das puérperas relatam sintomas depressivos nesse período. Em um cenário ideal, todas as mães teriam acompanhamento adequado para enfrentar esses desafios, mas a realidade é bem diferente: menos de 20% das mulheres são efetivamente rastreadas para depressão materna, deixando muitas delas sem o suporte necessário.

O burnout materno, também conhecido como mommy burnout, não possui um código específico na Classificação Internacional de Doenças (CID-10). No entanto, é reconhecido como um estado de exaustão extrema, podendo ser enquadrado em códigos relacionados ao esgotamento físico e emocional.

Com a CID-11, vigente desde 2022, a Síndrome de Burnout (QD85) foi oficialmente classificada como uma condição ocupacional. Ainda assim, o burnout materno não é tratado como uma entidade distinta dentro da classificação.

Mãe perfeita

A culpa materna surge de diferentes frentes. Há a imagem da “mãe perfeita” que a sociedade insiste em construir—sempre disponível, sempre paciente, sempre amorosa. As redes sociais reforçam essa ideia, mostrando recortes idealizados da maternidade, enquanto nos bastidores, mães reais enfrentam suas próprias batalhas. Ao mesmo tempo, a necessidade de equilibrar múltiplos papéis faz com que muitas mulheres se sintam divididas. Trabalhar fora cuidar da casa, ser presente na vida dos filhos… A sensação de que nunca estão fazendo o suficiente se instala, criando uma carga emocional difícil de suportar.

O que poucas mães sabem—ou não se permitem admitir—isso é normal. O cansaço, a frustração e até mesmo as dúvidas não tornam ninguém menos mãe. São apenas parte da experiência humana. Entretanto, a falta de acolhimento e compreensão leva muitas mulheres ao burnout materno, um estado de exaustão extrema que pode afetar o sono, o humor e a energia.

Há maneiras de aliviar essa carga. O primeiro passo é aceitar que a perfeição é inalcançável e que cometer erros faz parte do processo. Buscar apoio, seja profissional ou através de uma rede formada por familiares e outras mães, pode transformar completamente essa experiência. Estabelecer limites, aprender a dizer “não” e cultivar a autocompaixão são atitudes que ajudam a quebrar o ciclo da culpa materna.

A maternidade real está longe de ser um conto de fadas, mas também não precisa ser uma jornada solitária e sufocante. Compreender que os desafios fazem parte do caminho e que pedir ajuda é um ato de força pode tornar essa experiência mais leve. No final das contas, o amor e o cuidado são construídos dia após dia, nos pequenos gestos e nas trocas genuínas. E isso, sim, é o que realmente importa.

**Silvia Rezende é graduada em Pedagogia e Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Silvia possui especialização em Terapia Comportamental Cognitiva em saúde mental pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ela é a coordenadora técnica da Clínica de Psicologia LARES e professora do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Silvia atua também como psicóloga colaboradora no IPQ HC FMUSP e no Programa de Psiquiatria Social e Cultural (PROSOL), um grupo do Instituto de Psiquiatria da FMUSP.

Hever Costa Lima
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